Técnicas de Alívio de Pressão e Prevenção de Lesões
- Daniel Dutra

- 28 de nov.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de nov.
O posicionamento terapêutico e o alívio de pressão são pilares da Fisioterapia internacional, transcendendo a simples mudança de decúbito. Para pacientes com mobilidade comprometida — sejam eles internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), em reabilitação pós-acidente vascular cerebral (AVC) ou idosos acamados — a intervenção do fisioterapeuta é crucial. Ela não apenas previne lesões secundárias, como úlceras por pressão, mas também otimiza a função pulmonar e previne contraturas articulares.

1. 🔄 O Padrão Ouro: Mudança de Decúbito e o Risco de Cisalhamento
A redistribuição da pressão é o cerne da prevenção de lesões por pressão (LPPs). A isquemia tecidual prolongada é o inimigo, e o tempo é o fator de risco.
A Regra das 2 Horas: A diretriz universalmente aceita estabelece a mudança de decúbito a cada 2 horas para a maioria dos pacientes acamados. Em casos de alto risco (escores baixos na Escala de Braden), a frequência deve ser intensificada para a cada hora.
Posicionamento 30° Lateral: É a técnica de escolha. Posicionar o paciente em decúbito lateral em um ângulo de 30 graus evita a pressão direta sobre o trocânter maior e o ombro. Esta angulação permite uma distribuição mais ampla do peso corporal, minimizando o risco de LPPs nessa região crítica.
Ameaça do Cisalhamento: Ao posicionar o paciente na Posição Semi-Fowler (acima de 30°) para alimentação ou conforto, o risco de cisalhamento (força de deslizamento) na região sacral aumenta drasticamente. O cisalhamento, combinado com a pressão, é um dos principais mecanismos de desenvolvimento de úlceras. A Fisioterapia deve educar a equipe e o paciente a se movimentar com cautela, evitando o arrastar.
2. 🛡️ Foco nas Áreas Críticas: Flutuação e Suspensão
Algumas proeminências ósseas, devido à pouca cobertura muscular, são pontos de pressão constante.
Suspensão de Calcanhares: Os calcanhares são a segunda área mais propensa a desenvolver úlceras. A técnica exige que os calcanhares fiquem totalmente suspensos no ar, sem tocar o colchão. O peso é redistribuído para a panturrilha, utilizando travesseiros ou dispositivos flutuadores específicos.
Proteção de Cotovelos e Tornozelos: O uso de almofadas, botas e ortóteses suaves é vital para evitar o contato ósseo prolongado com superfícies duras, mantendo as articulações em um alinhamento funcional.
3. 🎯 Além da Pele: Posicionamento Funcional na Fisioterapia
O posicionamento não se restringe à prevenção de úlceras. O fisioterapeuta o utiliza como uma intervenção terapêutica ativa para manter a integridade musculoesquelética e respiratória:
Objetivo Terapêutico | Técnica de Posicionamento |
Prevenção de Contratura | Manter articulações em posições neutras ou ligeiramente funcionais (ex: tornozelo a 90° com órteses, punho em posição neutra). |
Melhora da Função Pulmonar | Uso estratégico do Decúbito Prono (especialmente em quadros graves como SDRA), ou o posicionamento em Semi-Fowler/Inclinação lateral para otimizar a ventilação e a drenagem de secreções. |
Controle de Edema | Elevar os membros acima do nível do coração (sem causar pressão na fossa poplítea ou axilar) para facilitar o retorno venoso e linfático. |
Facilitação da Espasticidade | Posicionar membros com espasticidade em padrões que inibam os reflexos tônicos anormais (ex: evitar extensão completa do joelho em pacientes com lesão do neurônio motor superior). |

O sucesso do tratamento a longo prazo depende da adesão rigorosa a estes protocolos. O fisioterapeuta é o principal responsável por educar o paciente, familiares e a equipe de enfermagem sobre a correta aplicação e frequência das técnicas de posicionamento.
📚 Referências de Literatura na Área de Fisioterapia
Para aprofundar seu conhecimento sobre o manejo da pressão e posicionamento, consulte as diretrizes e estudos destas organizações e autores:
National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP/NPIAP) – Diretrizes Clínicas: Fonte primária para a classificação e prevenção de lesões por pressão. O consenso é crucial para determinar a frequência e o ângulo do reposicionamento.
European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP) e Pan Pacific Pressure Injury Alliance (PPPIA): Juntamente com a NPIAP, produzem o guia de prática clínica mais abrangente sobre lesões por pressão, que detalha o uso de superfícies de alívio de pressão (SAPs) e técnicas de reposicionamento.
American Physical Therapy Association (APTA) – Guidelines: Publicações focadas em intervenções fisioterapêuticas para gerenciamento de úlceras e posicionamento funcional em reabilitação neurológica e geriátrica.
O’Sullivan, S. B., & Schmitz, T. J. (2019). Physical Rehabilitation. Livro clássico de reabilitação que dedica capítulos ao posicionamento adequado para prevenir complicações musculoesqueléticas e dermatológicas em pacientes com disfunção neurológica.
Perry, A. G., & Potter, P. A. (2018). Fundamentos de Enfermagem (Capítulos sobre Segurança e Integridade da Pele). Embora seja um livro de enfermagem, é a referência central para a frequência e execução da mudança de decúbito no contexto hospitalar, essencial para a colaboração interprofissional do fisioterapeuta.



Comentários